terça-feira, 25 de outubro de 2011

Anorexia & o Contemporâneo

Pensando na anorexia como sintoma .... sintoma que quer dizer algo. Então, pode-se pensar na estreita relação entre a linguagem na estrutura de um sujeito e nas patologias da neurose. A Anorexia quer falar de algo deste sujeito. Algo que ele não conseguiu deslocar em palavra. Usar aquilo que tenho  para falar de um corpo, de uma dor, de uma inibição, é justamente o âmago da questão. Quando o corpo recusa um alimento, ele recusa falar de si. Fica repetindo no sintoma uma forma fantasiada de uma realidade que não dá conta. Se fala com a boca na Anorexia....mas com a boca fechada. É preciso perceber se o campo da palavra está exposto ao sujeito anoréxico. Se a linguagem é constituinte para o sujeito, é possível pensar que em algum circuito da oralidade algumas letras constitutivas se perderam. Fazendo lacunas pulsionais confusas. É como se na musicalidade do som das palavras, se perdessem alguns tons e ritmos, transformando o sentido de uma determinada sentença. O sujeito faz um sintoma complexo de pulsão de morte, pois pode ser a única forma que consegue fazer se ouvir pelo outro. Há um rompimento com àquele traço primário de satisfação remanescente , em que o bebê é alimentado e satisfeito por um momento....até frustrar e assim sucessivamente. Sair deste lugar de desejo do outro é ir para onde? Para um não lugar. Por isso, podemos dizer que o estímulo do culto ao corpo, pode sim ser um fator desencadeante para a Anorexia, mas não deflagra sem a onipotente presença da estrutura neurótica da linguagem em sua face patológica, porém latente, esperando um grito interno para emudecer e só falar a partir de um sintoma . Sintoma sustentado por uma escolha.....aquela que de alguma forma , muitas vezes fatal, limita o outro à sua insignificância, dando um novo tempo e espaço para um novo corpo que padece em si todo o silêncio daquelas palavras “malditas”, que recusando ou regurgitando sílabas ...ainda é preciso escutar ! E aqui tem –se uma direção de cura. Escutar sem ânsia da necessidade ou Demanda do óbvio, daquilo que dá vida ao corpo e mente, o alimento. É preciso ir ao Desejo deste paciente. E de alguma forma dentro do tempo lógico de Lacan:” tempo de ver, tempo de compreender e momento de concluir”. É interessante pensar que o foco deste paciente é atemporal, ele perdeu a noção do tempo . Vida e Morte se cruzam numa ambivalência delirante. Não fiquemos no enunciado ( Vamos! Coma!) veja a enunciação: (Ok. Mas me fale de você...) Agora, já existe um lugar para lidar com este sujeito.
 Entre ganhos e perdas, há um caminho de volta!